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17.04.2020
PANORAMA: A expectativa de uma luz no fim do túnel
17 de Abril de 2020 Marco Antônio dos Santos Martins(*)
O processo de tomada de decisão no mercado financeiro é alimentado por uma infinidade de fatores, que em sua essência, buscam estimar as expectativas de fluxo de caixa dos ativos ajustados a valor presente por uma taxa de retorno que reflita o custo de oportunidade ajustado pelo risco, ou seja, tentando projetar o futuro.
Dentro desta lógica, o comportamento da bolsa de valores é classificado como um dos importantes indicadores antecedentes, utilizados para antecipar os ciclos econômicos. Assim, o encerramento da primeira quinzena de abril pode estar sinalizando que existe uma expectativa de luz no fim do túnel, mesmo considerando que não se saiba o quanto longo é o túnel.
Desta forma verifica-se uma tsunami nos preços de todos os ativos no mês de março, onde o IBOVESPA, após atingir 116.518 pontos em 18 de fevereiro, mergulhou até 63.570 pontos em 23 de março, com uma desvalorização de 45,4%, fechando março com desvalorização de 29,1% no mês. O índice Dow Jones não foi diferente, após atingir 29.551 pontos em 12 de fevereiro, chegou a 18.592 pontos em 23 de março, com uma desvalorização de 37,1% de perdas, fechando março com uma perda 13,7%. Na primeira quinzena de abril, mais precisamente até 17 de abril, o IBOVESPA se valorizou 8,2%, fechando em 78.990 pontos e o DOW JONES fechou em 24.242 pontos, se valorizando em 10,6%.
Os investidores passaram a primeira metade do mês de abril alterando o ânimo, entre desespero e euforia muito rapidamente, na medida em que os números correntes da atividade econômica eram muito ruins e podem piorar um pouco mais. Nos Estados Unidos os pedidos de auxílio desemprego alcançaram 16,8 milhões em três semanas e o número de mortos nos é comparável a um 11 de setembro por dia. No Brasil, o consumo de energia elétrica na segunda quinzena de março caiu 8% em relação a primeira quinzena e o tráfico de veículos nos pedágios teve queda de 18,4% em relação a fevereiro e 19% em relação a março do ano passado.
Por outro lado, a queda 6,8% no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano anterior no PIB da China, foi a primeira contração em quase 30 anos, mas veio melhor que as expectativas iniciais, e a economia começa voltar a operar dentro da normalidade. Quanto às pesquisas sobre medicamentos e vacinas contra o coronavírus parece que estão avançando num ritmo acelerado. A Alemanha, Espanha, Itália e França ensaiam uma retomada lenta e gradual das atividades, relaxando as medidas de quarentena enquanto o governo americano anunciou que está estruturando um plano de retomada da atividade. No Brasil, os estímulos fiscais e monetários estão sendo implementados, chegando a mais 15% do PIB, com socorro aos autônomos, linhas de crédito às empresas e medidas de proteção ao emprego.
Em relação à expectativa de uma luz no final do túnel, o FMI publicou em 6 de abril seu World Economic Outlook, onde apresenta as primeiras projeções para o PIB 2020 e 2021 com os efeitos da pandemia do coronavírus. De acordo com o FMI, a economia global deverá contrair-se 3% neste ano, ante expansão de 3,3% prevista em janeiro. No entanto, a mesma publicação prevê um crescimento do PIB mundial na casa
5,8% para 2021. Em relação aos Estados Unidos, o FMI projeta uma queda 5,9% para 2020 e um crescimento de 4,7% para 2021. Para a Zona Euro, as estimativas apontam para uma queda de 7,5% para 2020 e uma retomada tímida de 4,7% para 2021. No caso do Brasil, a estimativa é de uma queda de 5,3% para 2020 e uma recuperação de 2,9% para ano de 2021, em linha com as projeções publicadas por outros economistas locais.
No caso brasileiro, ainda existe a necessidade de um estreito monitoramento da evolução das contas públicas, bem como a sinalização por parte do governo de que a piora fiscal é conjuntural e que o aumento de gastos é transitório, de maneira que, tão logo a economia retome sua trajetória, o compromisso de ajuste fiscal será retomado.
Dentro desse contexto, os investidores devem evitar grandes movimentações no curto prazo, sob o risco de realizar prejuízos precipitadamente. Já num horizonte mais longo, se vislumbra um cenário em que a grande preocupação será a de gerenciar os riscos, garantir liquidez e aproveitar com prudência as oportunidades que o mercado proporcionar, dentro de um cenário de SELIC e inflação baixa.
(*) Professor do DCCA da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, Doutor em Administração, com ênfase em Finanças e Mestre em Economia pela UF